Se há precarização de algo na sociedade, em outras palavras, se falta determinada coisa a muitas pessoas em uma sociedade, enquanto uma minoria detém o que às outras faltou, da necessidade de transformar essa contradição surge os movimentos sociais. Falta terra, bem como teto a uma grande parcela da sociedade sendo necessária a organização destas pessoas a fim de formar os movimentos tão amados pela nossa grande mídia.
O movimento estudantil, também um movimento social, surge da ânsia de transformação de algumas necessidades básicas precarizadas dentro de nossas universidades públicas. Basta refletirmos que para estudar precisamos desde uma demanda de materiais suficientes para a quantidade de alunos – bom frisar a qualidade deles como importante - até uma boa alimentação que supra essa mesma quantidade de pessoas. O mais irônico é: apesar disso tudo ser necessário, nossas universidades não oferecem tal assistência estudantil.
Há quem defenda que após o fim da ditadura militar nem nossa sociedade, nem nossas universidades tem mais problemas, logo não há porquês do movimento estudantil existir em atual conjuntura. Mas nós que o construímos acreditamos que o fim da ditadura não transformou de fato nossa sociedade, que dirá nossas universidades.
Não é preciso fazer uma análise do neoliberalismo, implantado no governo FHC aqui no Brasil, para percebermos a falta de livros e laboratórios, um restaurante universitário sucateado (isso, parecendo sucata mesmo) e também a falta de corpo docente em muitas disciplinas. Em disparidade a isso, há algumas empresas privadas investindo em determinados cursos na universidade, que é pública, por serem de seus interesses mercadológicos. A lógica de mercado inclui aqueles de seus interesses, bom lembrar que aqueles de seus interesses não serão para sempre de seus interesses.
Gremial x Classista
A partir desta percepção de transformação, o movimento estudantil se organiza, mas se organiza de várias formas e com várias concepções. A concepção gremial de movimento se organiza apenas de forma burocrática, pelos centros acadêmicos ou diretórios acadêmicos. Dentro desta concepção, basta atender os interesses da categoria estudante de uma determinada universidade, e muitas vezes de um determinado curso, limitando suas transforma-ações a acordos de gabinete, além de hierarquizar o processo.
A outra perspectiva de movimento estudantil, defendida pela ENECOS (Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação Social), acredita que não basta a representatividade das entidades estudantis e muito menos a verticalização de poder nelas. É preciso romper a hierarquização dentro dos processos do movimento estudantil, priorizando a participação coletiva, a promoção de debates, o trabalho de base para que não caiamos no vício vanguardista, e a formação político- histórica.
Uma outra compreensão dessa visão de movimento parte de entendermos que o estudante é uma categoria poli-classista, ou seja, há estudantes de diversas condições sociais e, ainda assim, fazer movimento estudantil é fazer uma opção de classe, da classe trabalhadora. Porque é ela a maioria excluída, a ela faltam as determinadas coisas, a ela um dia pertenceremos, porque ela, a história sempre excluiu. E quando aquela lógica de mercado a inclui sempre lhe tira algo, mesmo que seja um pouco de sua identidade.