quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Seu molotov é câmera na mão


Antes de tudo, um militante. É assim que o documentarista, cineasta, diretor teatral e escritor Carlos Pronzato se define. Nascido na Argentina e radicado na Bahia, Pronzato percorreu a América Latina durante anos e, de câmera na mão, registrou aquilo que viu e do qual participou em documentários como “A Revolta do Buzú” e “A Rebelião dos Pingüins: Estudantes secundaristas contra o sistema no Chile”, que se caracterizam como o verdadeiro retrato das lutas dos movimentos sociais. Versátil, aborda temáticas que vão de Che Guevara a cassação de ACM, passando pelo racismo e intolerância religiosa na Bahia, a ascensão de Evo Morales na Bolivia, o Rio São Francisco, a ALCA, o MST, a reforma universitária e até os transgênicos. Tudo isso não só como mero observador, mas como um verdadeiro defensor de toda causa que visa resistir aos punhos massacrantes do sistema.

Carlos Pronzato nasceu em Buenos Aires, em 1959 – ano da Revolução Cubana –, filho
de uma artista plástica e fotógrafa argentina e de um italiano músico e roteirista de cinema, teatro e TV. Desde pequeno no berço da arte, Pronzato cresceu indo ao cinema e ao teatro, acompanhando e apreciando a produção dos pais e tendo até mesmo grandes nomes da pintura e da poesia entre suas influências. E pegou gosto pela coisa: chegava a tomar nota de aspectos técnicos das reprises cinematográficas que assistia.

Depois de preencher seus diários de viagem com muitas lembranças de lugares como
Martinica, Panamá e Chile, Pronzato desembarcou na Bahia, em 1989. E foi lá que se graduou em Teatro no ano de 1993, pela UFBA – formação na qual se especializou mais pra frente, em 2002, pela UFRGS. No final da década de 90, porém, Pronzato vê que o teatro não lhe permite uma penetração tão incisiva quanto o audiovisual. E é aí que se decide verdadeiramente pelos documentários, considerando-os como legítimos recortes da realidade segundo a interpretação única do autor. Daí pra frente suas inúmeras e ímpares produções ganharam cada vez mais destaque dentro e fora do país. E não pára por aí: ganharam prêmios como o especial da Jornada Internacional de Cinema da Bahia em 2009 por “Madres de La Plaza de Mayo” e o de melhor filme pelo Juri popular no II Bahia Afro Film Festival em 2008, com “Até Oxalá vai à guerra”.

Os documentários de Pronzato não contam com muitos recursos nem refletem grande preocupação estética. O que, para ele, só faz intensificar a proposta política. A falta de uma produção mais elaborada traz uma sensação de verdade, de imersão do autor. É a legitimação de que registro foi feito não por alguém que assiste de fora, mas por quem realmente abraça a bandeira do que retrata. Pronzato quer, com seu trabalho, dar voz a quem se vê amordaçado pela opressão. Quer suscitar o debate, gerar reflexão e, sobretudo, a ação.

Enquanto militante, Carlos Pronzato é dono de ideais bem definidos e partidário de Che Guevara. Mas não submete suas ideias às convenções de nenhum partido político. Sua condição de tradutor da realidade lhe dá justamente a possibilidade de migrar entre diversas concepções sem necessariamente se prender aos padrões pré-definidos de nenhuma delas. Para ele, a mudança não acontece pela periódica renovação de bancadas políticas nas eleições, e sim pela ascensão de novos movimentos sociais e suas dinâmicas. E é dentro dessa questão que alerta: o movimento estudantil só poderá ser digno de esperança quando algumas de suas instâncias deixarem de lado a apatia e o modismo demagogo e se mobilizarem de fato em torno de uma política séria e ampla.

Os exemplares mais recentes do acervo autoral de Carlos Pronzato no que diz respeito
à cena audiovisual são “Mapuches, um pueblo contra el estado”, “Caramurú, o galego
tupinambá” e “A Bahia de Euclides da Cunha”, todos de 2010. E vale ressaltar que Pronzato transita também no campo da literatura: poesia, cordel, contos, dramaturgia e histórias infantis constam em suas publicações, dentre as quais se destacam “Lenta Geografia” e “Che, um poema guerrilheiro”.

Carlos Pronzato testemunhou e foi personagem de movimentos que são a prova de
que os tempos de revolução, ao contrário do que se pensa, continuam vivos. E põe em xeque a velha noção de que quanto mais se vive e se evolui na carreira, maior a tendência de se distanciar da busca pelo bem maior e coletivo. Pronzato não se rendeu, não se deixou coptar, não se calou. E fez da câmera sua principal arma na luta.

Para saber mais: http://www.lamestizaaudiovisual.blogspot.com

*Texto escrito por Nayara Arêdes (2° período de comunicação social jornalismo na UFS )

Um comentário:

  1. Boa noite! Sou do Rio de Janeiro e participo do movimento de libertação animal (humana e não-humana), estou muito interessado nos documentários do Carlos Pronzato, como faço para adquirir? Vocês disponibilizariam cópias para mim? Pago o frete e os DVD´s! rs

    Abraços

    meu contato: tiago.adesousa@gmail.com

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